Semana da Mobilidade: O transporte coletivo precisa ser eficiente

Tema de diversas conversas, encontros e reuniões nos últimos tempos, a eficiência do transporte coletivo deve ser prioridade em qualquer discussão.

Estamos na semana da mobilidade. Entre os dias 18 e 25 de Setembro o período reúne diversas datas simbólicas para a mobilidade são comemoradas, entre elas: 21 – Dia de Luta da Pessoa com Deficiência, 22 – Dia sem Carro & 25 – Dia do Trânsito… diversas ações para valorizar os meios de deslocamentos com respeito e segurança, são fomentadas para conscientizar o máximo de pessoas na sociedade.

Para iniciar esta questão, vamos entender: o que é a eficiência no transporte coletivo? Costumo definir de acordo com os seguintes itens:

  • Confiança: Saber que o ônibus irá passar no horário previsto, que possui uma tripulação capacitada e treinada e que o veículo possui sua manutenção estipulada em dia, evitando qualquer interrupção na viagem, é um dos pontos mais importantes e minimamente esperado pelos passageiros;
  • Conforto: Oferta de lugares suficientes para evitar superlotação, em especial nos horários críticos e funcionamento pleno dos equipamentos embarcados exigidos em contrato, tais como: Acessibilidade, Ar condicionado, Tomadas USB e Wi-fi, são alguns dos exemplos;
  • Disponibilidade: Com a mudança recorrente na forma de deslocamentos da população, o serviço deve se adequar de forma facilitada a demanda de acordo com cada dia e ou período estipulado de forma técnica;
  • Informação: O cliente/passageiro merece e precisa saber das interferências que venham a causar mudanças de trajeto, atrasos na pontualidade e ou cumprimento das viagens afim de reduzir a insatisfação dos serviços prestados;
  • Pontualidade: Respeito aos horários programados e divulgados;
  • Presença: oferecer serviços diferenciados além dos já previstos, buscando alcançar todos os públicos, além de ofertar serviços especiais em grandes ações e eventos, afim de se tornar um facilitador nos acessos e não apenas uma “opção forçada” ao uso;
  • Prioridade: Por ser um meio de transporte de grandes números, responsável pela grande parte dos deslocamentos, o ônibus deve ter prioridade de circulação no trânsito;
  • Transparência: divulgar com frequência informações sobre os serviços prestados, tais como: frota, horários, intervalos, atendimentos a pontos de interesse.

Durante muito tempo, seja por comodismo, falta de apoio ou incentivo, o setor não realizou mudanças consideradas a altura de seus concorrentes que vão desde montadoras de carros e motocicletas até a expansão por serviços de aplicativo.

Enquanto montadoras anunciavam em grandes meios de comunicação que adquirir um automóvel ou uma motocicleta é sinônimo de liberdade e conforto (mesmo que isso custe maior tempo e stress no trânsito), cujo aquisições são facilitadas através de consórcios e financiamentos a perderem de vista com juros absurdos diluídos em longos parcelamentos que “quase não impacta” o orçamento familiar.

Quase que no mesmo caminho, serviços por aplicativo explodiram amplamente em todos os campos de visão possíveis das pessoas, praticando tarifas competitivas e disponibilidade em horários que muitas vezes, o transporte coletivo conta com baixa oferta e ou nenhum serviço em funcionamento.

Na contramão de todos estes ataques in“diretos” o aumento dos custos de insumos e suprimentos necessários para a circulação dos serviços por ônibus, ficaram cada vez mais caros.

O viés político existente no reajuste das tarifas praticadas em qualquer canto do país, promoveu diversos casos de inviabilidade financeira ocasionando colapso em diversas empresas que fecharam suas portas ou se tornaram dependentes de subsídios cada vez maiores. Subsídios estes que são cada vez mais necessários devido o aumento de custos de rodagem pelo simples fato de não existir prioridade na circulação dos ônibus, aumentando assim o consumo de combustíveis e de componentes que acabam sendo gastos e ou danificados precocemente como também pela ampliação de gratuidades oferecidas.

Em resumo, podemos dizer que: o transporte coletivo se tornou um poço de políticas públicas mal feitas e aplicadas, deixando de lado o passageiro que bancava o sistema e que por inúmeros motivos ligados a insatisfação, aceitou a propaganda das montadoras e dos serviços de aplicativo e migraram de forma integral ou parcial para modais que colocaram o ônibus em um lugar de coadjuvante ou “última opção” de uso em seus deslocamentos.

Sabemos que o número de transportados praticados em décadas passadas, jamais retornará ao normal por motivos óbvios de redução de redes, ampliação do sistema de trilhos e a expansão do “home office” de algumas profissões além das concorrências que levou parte de seus números. Mas diante disso tudo, é necessário questionar o que os sistemas de transporte coletivo vem fazendo para assegurar seus atuais números e que estes, não venham continuar caindo como acontece atualmente.

Ônibus na cidade de Curitiba, pioneira na implantação de sistemas BRT em todo mundo. Modalidade é exemplo de eficiência.
Foto: Fábio Trindade.

Como profissional atuante na área, me pergunto será que estamos ouvindo nossos clientes como deveria? Estamos adequando o serviço dentro das possibilidades do momento com o que o passageiro espera que seja? Na era da experiência, congelar formas de se ofertar os serviços previstos, pode não ser a forma mais eficiente de sobreviver.

Estes cuidados devem se estender e serem apliados também aos profissionais da área, cada vez mais escassos e raros de se encontrar. É preciso reconhecer a importância e valorização daqueles que estão na linha de frente do funcionamento do transporte coletivo.

Mesmo que algo esteja sendo feito e tenho o pleno conhecimento de algumas poucas ações, é necessário coletivizar estas ações e feitos afim de garantir a ciência de todos de que “não estamos parados”. Aquela máxima que diz: “Quem não é visto, não é lembrado” nunca fez tanto sentido.

Os 8 pontos citados, considero indispensáveis para que o transporte coletivo e serviços de ônibus retome o protagonismo e alcance uma satisfação mínima de aceitação. A efetividade e eficiência dos serviços não podem ficar em segundo plano e não podem estar atrás de assuntos considerados do momento, tais como a eletrificação de frota e ou tarifa zero, que podem até ter suas devidas importâncias de acordo com a opinião de cada um, mas sem efetividade, o sistema morre!

Ônibus elétrico em circulação na cidade de São Paulo. Tipo de veículo chega a custar 4x mais que um ônibus com combustíveis tradicionais.
Foto: Fábio Trindade.

Lembrando que: isto não é uma crítica, mas sim, a necessidade de relembrar da importância de resolver os problemas existentes pela raiz e não apenas pela superfície. É agir dentro do que se espera para que possa concorrer em nível de igualdade com os concorrentes e não nivelar os serviços para baixo como vem sendo o roteiro seguido nos últimos anos, ocasionado pela referência falha de sistemas considerados “grandes referenciais” mas que vende sua técnica pela política barata que toma suas decisões de acordo com ideias mirabolantes que não coincidem em nada com a necessidade do povo e que não fazem jus aos seus jargões utilizados nos períodos eleitorais e de entrevistas ao público.

O pleito eleitoral municipal se aproxima e é de grande importância, acompanhar as propostas dos candidatos em todas as pastas e em especial na mobilidade. A conversa fiada sobre ônibus elétrico e a tarifa zero sem explicar de onde virá o dinheiro para cobrir o custo, além de outras façanhas regadas de muito “milagre” cabe a desconfiança sobre qualquer santo.

Transporte eficiente para que em breve, não se torne padecente.